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domingo, 7 de março de 2010

“Com a I.A. conseguimos um aumento de 15% no peso médio do rebanho”, diz Rafael

MARIZA MOTTA

O médico veterinário Rafael Pereira revela que a I.A. (Inseminação Artificial) é um processo simples e barato que permite aumentar a eficiência e lucratividade do rebanho e ressalta que depois da inseminação não se obteve mais problemas com partos de bovinos, além do aumento de15% no peso médio do gado de corte, ao desmame.

Rafael Pereira é formado pela Unipinhal (Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal) e especialista em - Inseminação Artificial de Bovinos - pelo Centro Lagoa da Serra em Sertãozinho/SP. A seguir trechos da entrevista realizada na fazenda Morro Alto, momentos antes de fazer inseminação em uma vaca da raça Nelore.

“A utilização da técnica de inseminação na região vem mudando a realidade dos pequenos produtores de Borda da Mata/MG em função dos custos com a produção de leite e o baixo retorno com a venda do produto. Os criadores encontraram na I.A. uma alternativa para melhorar geneticamente seu rebanho e poder competir com os grandes produtores. Além disso, a I.A. também é uma alternativa para evitar o contágio de doenças sexualmente transmissíveis pelo rebanho. A questão sanitária é um fator presente, pois o touro que vai à central de sêmen passa por uma bateria de exames frequentemente,” destaca Pereira.

Comunicare è infinito: Por que você escolheu trabalhar com Inseminação Artificial?
Rafael Pereira: A princípio foi para atender uma necessidade pessoal, como meu pai é criador, eu percebi na I.A. uma alternativa para obter um melhoramento genético do nosso próprio rebanho, com baixos custos.

C. I: Como é a sua rotina de trabalho?
R.P.: O trabalho de um inseminador capacitado é instruir o proprietário rural na identificação do cio (período fértil) do animal, (essa verificação é fator primordial para o sucesso da inseminação), e pode detectado quando o animal aceita a monta por um outro animal. Após a verificação do cio, a I.A. é feita até doze horas (momento bem próximo à ovulação) onde o sêmen é depositado dentro do útero do animal. Também faz parte do meu trabalho, fazer cruzamento (encontrar o par exato entre os animais) e conseguir assim uma adaptação genética mais próxima da perfeição. Nesta busca, observamos os pontos negativos da vaca e eu ajudo o criador a encontrar um touro que supra essas necessidades.

C.I: Como é feita a Inseminação Artificial em bovinos:
R.P.: O material utilizado para se fazer a I.A. é um botijão criogênico, para armazenar o sêmen, um aplicador compatível, termômetro, luvas descartáveis, pinça, bainha e cortador de palheta. Após a identificação do cio, é feita uma massagem no útero da vaca para verificar se o muco que o animal libera está cristalino como uma clara de ovo, sem estrias de sangue ou presença de pus, (nestes casos o animal é submetido a um tratamento). Faz-se a higienização do animal, e dá início então ao descongelamento do sêmen, que é feito com a água a uma temperatura de 36º, aguardando o tempo que varia de 35 a 40 segundos, e em seguida monta-se o aplicador. A técnica utilizada é a mano-retal e com o aplicador vaginal até passar a cérvix (colo do útero) e depositar o sêmen no início do útero.

C.I: Qualquer proprietário pode fazer I.A. no seu rebanho?
R.P.: Sim, desde que haja um profissional capacitado, qualquer proprietário pode recorrer a I.A. Nas propriedades de médio e grande porte onde há um grande número de animais para inseminar observa-se que muitos produtores capacitam os próprios peões da fazenda. Se você tiver um manejo adequado da propriedade, um inseminador capacitado, e sêmen de boa qualidade é possível obter ótimos resultados.


C.I: Como é escolhido o sêmen, quais as características principais que se busca em um reprodutor?
R.P.: O sêmen é comprado pelo produtor em centrais de coleta. Para que o animal chegue à central ele passa por várias etapas de seleção. Para o touro ser provado ele terá que imprimir uma boa qualidade nos filhos, ou seja, ter características lineares, dados de produção e características auxiliares (dificuldade de parto, vida produtiva). Dessa forma, todas as informações importantes devem ser observadas para as decisões que vão influenciar o futuro de seu rebanho e de sua atividade.

C.I: Quais são os cuidados com o a manipulação do sêmen?
R.P.: O cuidado se inicia com o botijão de transporte do sêmen, mantendo sempre o nível adequado de nitrogênio. Um botijão novo de boa qualidade deve ser recarregado a cada 60 dias, essa recarga é feita pela própria central que nos fornece o sêmen. Transportar o botijão com cuidado, não derrubar ou deixar exposto ao sol, o cuidado com o sêmen se dá no momento da I.A., forma de descongelamento, temperatura da água, manuseio adequado.

C.I: Quais são as limitações da I.A.?
R.P.: A grande limitação é a identificação correta do cio. O próprio criador conhece seu rebanho e consegue verificar facilmente o período fértil do animal, pois geralmente a vaca diminui o leite, afasta-se do bando e começa a aproximar das cercas. Em casos de dificuldade na identificação do cio é possível adotar um tratamento hormonal denominado IATF (Inseminação Artificial Em Tempo Fixo), cujo tratamento dispensa a verificação do cio. No caso do gado de corte é necessária uma estrutura física, como um brete de contenção para realizar a I.A., pois essas raças têm um comportamento mais arredio, já um animal da raça Holandesa com uma simples corda é possível fazer a inseminação tranquilamente.

C.I: Há indício de redução de doenças com a I.A.?
R.P.: Sim. Desde que sejam observados pontos como higienização do local, manejo adequado e utilização de sêmen de boa qualidade. O material utilizado na realização da inseminação é estéril, de uso único e o touro doador de sêmen escolhido pela central, passa por uma rotina de exames criteriosos e constantes, isso diminui o índice de doenças sexualmente transmissíveis, e não propaga nenhuma doença, ao contrário da monta natural, onde o índice de transmissão não pode ser previsto mesmo com um acompanhamento diário pelo produtor, pois, geralmente não se tem um controle sanitário perfeito de todos os animais do plantel (rebanho).

C.I: Qual a diferença entre a Inseminação Artificial e a Técnica de Transferência de Embriões?
R.P.: A T.E. (Transferência de Embriões) consiste num trabalho de superovulação do animal, por meio de um tratamento hormonal, (geralmente a cada cio o animal libera apenas um óvulo), mas, com o tratamento conseguimos a liberação de vários óvulos. Feita a fecundação os embriões são retirados e transplantados às receptoras. Esse trabalho é feito em animais de alto valor genético, com isso, conseguimos ter em um único ano vários filhos desse animal. Entende-se por I.A. o procedimento de depositar o sêmen do macho no útero da fêmea utilizando meios artificiais em lugar da cópula natural.

C.I: Quais são os touros mais utilizados na nossa região para a reprodução?
R.P.: Na região as raças mais utilizadas na I.A. para corte é o Nelore, para o gado de leite o Holandês, o Gir leiteiro e o Girolando.

C.I: Quais são as vantagens e desvantagens da I.A.?
R.P.: O melhoramento genético do rebanho é muito rápido. Na prática, se você tem um rebanho pequeno fica inviável adquirir um touro de alto valor genético, em função do custo de determinados animais, com a I.A. você consegue ter filhos de touros selecionados com um custo relativamente baixo. O índice de prenhês fica em torno de 90% até o momento eu não vejo nenhuma desvantagem.

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